quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Poema em linha reta
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil.
Eu tantas vezes irrespondívelmente parasita,
Indesculpavelmente parasita.
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante.
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo
Toda gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho;
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o "Ideal", se os ouço e me falam.
Que há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"
Fernando Pessoa
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Um comentário:
Ninguém quer contar derrota, minha nobre!
Postei hj em sua homenagem. Depois dá uma olhada.
bjos
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