segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Clarice Lispector


Clarice Lispector parece estar mesmo à frente de seu tempo.

Depois do lançamento de “Entrevistas”(o livro que reúne conversas com grandes personalidades brasileiras) , a Rocco apostou na autora para mais dois novos livros.
Outros escritos traz ao público diversos escritos inéditos de Clarice. Mas, desta vez, eles não se encontram assinados pela escritora consagrada, mas pela escritora iniciante, pela jornalista, pela estudante de direito, pela colunista feminina, pela dramaturga, pela mãe, pela conferencista e ensaísta Clarice Lispector. Já Aprendendo a viver - imagens reúne fotos raras e outras inéditas, cada uma delas acompanhada por frases e pequenos trechos extraídos da obra da autora.

Clarice incomparável....

"Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta"

(Clarice Lispector)

Pessoa


Uns Versos Quaisquer

Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo . . .
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos . . .

Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja . . .

Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .

Porque o que importa é que já nada importe . . .
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos . . .
Tudo é o mesmo . . .
Eis o momento . . .
Sejamo-lo . . .
Pra quê o pensamento?

(Fernando Pessoa )

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pensamentos

Dias que me sinto só entre meus travesseiros.
Lugar em que a alma repousa e se alimenta.
Ninguém para conversar , falar coisas sem sentido e rir. Fico pensando o que a vida quer de mim. Ou então, naquele sorvete de creme no freezer. Penso sem parar. Penso e repenso. Será que os cachorros não enxergam a noite? Será que amanha vai fazer sol? Penso no vestido para o casamento que comprei. Penso que nunca mais vou usá-lo. Penso no meu cabelo. Cruzes. Pensamentos que não me deixam quieta.
Relógio marcando meia noite e eu aqui pensando em tolices, numa sexta feira quente de verão.
Não sei se já disse isso, mas penso como amo o Rio de Janeiro mais que qualquer cidade no mundo. Essa gente que distribuiu sorrisos de graça.
Ai, a Avenida do samba.
Avenida de esquinas tortas, latas pelo chão, meninos vendendo balas, policiais pedindo esmolas. Rio controverso, Rio risonho, Rio travesso, Rio malandro, Rio alegria. Nostalgia desses mares. A eterna magia imcomparável dos quadris. Como penso.
Penso mais e fumo um cigarro. Olha a caixa dele e digo que preciso parar de fumar. Fumaça que me corrompe de sabor. Mas ainda prefiro falar da minha terra. Rio blá blá blá. Chega dessa ladainha. Posso pensar em coisas mais interessantes.
Pasta de atum, queijo provolone, Danete, Rocombole, doce de leite.
Que fome.
Meus pensamentos as vezes me tomam.
Vou comer algo.
Até mais.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Walking Around



Já que o outono se faz distante ...... Neruda me acompanha.

"Acontece que me canso de meus pés
e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios
e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas."

(Pablo Neruda)
Ando sem tempo para minha alma ultimamente.
Não porque realmente não tenha tempo livre ,
é que a alma anda cansada desses redemoinhos.
Entre partidas e retornos
o corpo sufoca a ausência daqueles dias.
A poesia que ainda não voltou....

sábado, 19 de janeiro de 2008


"¡Mi corazón es una mariposa,
niños buenos del prado!,
que presa por la araña gris del tiempo
tiene el polen fatal del desengaño.
De niño yo canté como vosotros,
niños buenos del prado,
solté mi gavilán con las temibles
cuatro uñas de gato.
Pasé por el jardín de Cartagena
la verbena invocando
y perdí la sortija de mi dicha
al pasar el arroyo imaginario.
Fui también caballero
una tarde fresquita de mayo.
Ella era entonces para mí el enigma,
estrella azul sobre mi pecho intacto.
Cabalgué lentamente hacia los cielos.
Era un domingo de pipirigallo.
Y vi que en vez de rosas y claveles
ella tronchaba lirios con sus manos.
Yo siempre fui intranquilo,
niños buenos del prado.
el ella del romance me sumía
en ensoñares claros:
¿quién será la que coge los claveles
y las rosas de mayo?
¿Y por qué la verán sólo los niños
a lomos de Pegaso?
¿Será esa misma la que en los rondones
con tristeza llamamos
estrella, suplicándole que salga
a danzar por el campo...?
En abril de mi infancia yo cantaba,
niños buenos del prado,
la ella impenetrable del romance
donde sale Pegaso.
Yo decía en las noches la tristeza
de mi amor ignorado,
y la luna lunera, ¡qué sonrisa
ponía entre sus labios!
¿Quién será la que corta los claveles
y las rosas de mayo?
Y de aquella chiquilla, tan bonita,
que su madre ha casado,
¿en qué oculto rincón de cementerio
dormirá su fracaso?
Yo solo con mi amor desconocido,
sin corazón, sin llantos,
hacia el techo imposible de los cielos
con un gran sol por báculo.
¡Qué tristeza tan seria me da sombra!
Niños buenos del prado,
cómo recuerda dulce el corazón
los días ya lejanos...
¿Quién será la que corta los claveles
y las rosas de mayo?''

(Frederico Garcia Lorca)


quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

De volta a Babilônia ...


Escrevo com o vento,
com as flores , com o mar,
com a mata que ainda sobrevive e respira.
Escrevo porque há o maldito hábito
e uma compulsão excessiva que não me deixa parar.
Sou escrava dessas linhas.
Por vezes não tenho coisas úteis para dizer
e mesmo assim o martírio da caneta me persegue.
Sigo rascunhando com essas pequenas mãos
palavras torpes sem razões contínuas.
Assim como a maldição que assombrou o Romantismo
As trevas que fizeram os trovadores cantar amores
As paixões modernas que embalaram versos amarelos de Neruda
e terras distantes em Pessoa.
As palavras me dominam.
Inspiram a minha humilde escrita torta.
Transformam a prosa em finos versos.
A literatuta imitando a vida,
a poesia refletindo as marés
a lua marcando suas indas e vindas
as águas inundando quem tu és.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Esses últimos dias


Só consigo falar de saudade esses últimos dias
Os versos não me saem
É como se faltassem palavras
Escrevo porque sou persistente
Porque acredito que alguma hora a poesia volte
De fininho observo seu andar
As pernas não vacilam
Só consigo cantar sua ausência esses últimos dias
Quantas vezes quis te ter
e quantos choros fizeram meu sono
Sonhei com momentos inesquecíveis
Refiz um texto antigo
Comprei colares e sementes
E então quando pensei que podia
A distração se fez pequena perante a falta que senti
Fiquei para o amanhã
mais uma vez ....
Pensei em voce toda madrugada
E no final,
so consegui sentir seu cheiro esses ultimos dias.