quarta-feira, 23 de abril de 2008
Ele era o meio da confusão. Um ponto de convergência entre todas as histórias. Diferente e parecido ao mesmo tempo. Enlouquecia algumas das minhas noites e horas de sono. Era o meu mundo e o meu nada. Tinha dias que tentava chamar atenção. Falava o que não devia, consumia o que queria e nem se dava conta do que sobrava no final: restos de corações espalhados.
Era como se qualuqer influência fizesse sua cabeça e num simples piscar de olhos ele se perdesse na multidão.
Assim ele andou.
E assim ando eu, numa incrivel tormenta, ao lado dele.
Ele fez juras de amor, mas esqueceu as horas extras ....
terça-feira, 22 de abril de 2008
A garrafa de champagne devorada em curtas horas, o chapéu preferido na cabeça e a eterna andança de minhas pernas.
Devo dizer que de todo amor que tive e de tudo que posso suportar
que a saudade é o sentimento mais cortante de tudo que existe.
É a alma sem espírito.
A poesia sem fala.
terça-feira, 15 de abril de 2008
A poesia anda perdida esses dias.
Me espreita pelas portas entre abertas e foge.
Não consigo alcançá-las com palavras suspeitas e nem trocá-las para formar frases quase que perfeitas. Fico vagando para ver se a encontro escondida embaixo da cama. Sozinha. Desenhando em papéis rabiscados rimas e sonetos. Não acostumo de a perder tão de repente.
Ponho os meus pés no chão várias vezes durante vários dias. Esses são aqueles que me sinto mais fantástica. Mas as palavras me escapam como foguetes e se camulflam nas nuvens.
Não importa o quanto os dias serão longos e tristes.
Enquanto a poeisa está perdida, nada mais terei para dizer-te.
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Jorge Luis Borges II
Borges e eu
Ao outro, a Borges, é que acontecem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e demoro-me, talvez já mecanicamente, na contemplação do arco de um saguão e da cancela; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo o seu nome num trio de professores ou num dicionário biográfico. Agradam-me os relógios de areia, os mapas, a tipografia do século XVIII, as etimologias, o sabor do café e a prosa de Stevenson; o outro comunga dessas preferências, mas de um modo vaidoso que as converte em atributos de um actor. Seria exagerado afirmar que a nossa relação é hostil; eu vivo, eu deixo-me viver, para que Borges possa urdir a sua literatura, e essa literatura justifica-me. Não me custa confessar que conseguiu certas páginas válidas, mas essas páginas não me podem salvar, talvez porque o bom já não seja de alguém, nem sequer do outro, mas da linguagem ou da tradição. Quanto ao mais, estou destinado a perder-me definitivamente, e só algum instante de mim poderá sobreviver no outro. Pouco a pouco vou-lhe cedendo tudo, ainda que me conste o seu perverso hábito de falsificar e magnificar. Espinosa entendeu que todas as coisas querem perseverar no seu ser; a pedra eternamente quer ser pedra, e o tigre um tigre. Eu hei-de ficar em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas reconheço-me menos nos seus livros do que em muitos outros ou no laborioso toque de uma viola. Há anos tratei de me livrar dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e com o infinito, mas esses jogos agora são de Borges e terei de imaginar outras coisas. Assim, a minha vida é uma fuga e tudo perco, tudo é do esquecimento ou do outro.
Não sei qual dos dois escreve esta página.
(Jorge Luis Borges)
domingo, 13 de abril de 2008
Pensamentos III
Nomes e codinomes me atormentam. São como dias de luz e dias de noite. Controversos e determinados. Gosto de Pessoa, como gosto da minha mãe. A nata da poesia das poesias. Mas queria mesmo entender porque tantas caras diferentes? Eram tantos seres dentro de um só que não cabiam no simples Fernando. Isso me confunde.
A eterna inconstância dos pensamentos.
Se pudesse amaldiçoaria o clima dessa terra. O velho mundo está tão ultrapassado que São Pedro resolveu se mudar para os trópicos. Praia, cerveja gelada e alergia casual. Bactérias não suportam tanto calor. Frio é bom quando é ar condicionado. Dormir no fresquinho escutando aquele barulho hipnótico.... ummmmm......
O sol realmente muda o humor das pessoas.
Sete dias de cama e começo a remoer.
- Quase não vejo meus pés. Por onde andam minhas havaianas?
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Chico Buarque
Já que a saudade do samba só aumenta. Uma letrinha de um que eu adoro para descontrair.
Oh coroa bonito!!!!
hehehe
"Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade, que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente ainda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem-vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã"
(Chico Buarque)
Hilda Hilst
"Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.
Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?"
(Da Noite - 1992)
Sigmund Freud
terça-feira, 1 de abril de 2008
Pensamentos II
Preciso da certeza que o amanhã será melhor, sem o falso otimismo bobo e sem conclusões precipitadas. Faltam pessoas que tenham fé e governantes que tenham sensatez. Sei que nem sempre a fé move montanhas, mas desviar delas já seria suficiente para mudar alguma coisa.
Falar de utopia, é falar de nossos sonhos. Aqueles bem escondidos ou aqueles que buscamos encontrar todos os dias. Aqueles que se camuflam em nossa personalidade e aqueles que transparecem em nossos rostos.
A vida surge para aqueles que acreditam em mudanças, que acreditam que dar o melhor de si as vezes não basta, que temos mesmo que suar a camisa para ser todo dia diferentes. Porque a paz não está na estabilidade e sim nas certezas. E essas, meus caros amigos, são raras demais no mundo que vivemos ....
Galeano
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
[ Eduardo Galeano ]