terça-feira, 4 de dezembro de 2007

ausência


Hei de edificar a vasta vida
que mesmo agora é teu espelho:
toda manhã hei de reconstruí-la.
Desde que te afastaste,
tantos lugares se tornaram inúteis
e sem sentido, como,
luzes do dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
músicas em que sempre me esperavas,
palavras daquele tempo,
eu terei de quebrá-las com minhas mãos.
Em que profundezas esconderei minha alma
para que não enxergue tua ausência
que como um sol terrível, sem acaso,
brilha definitiva e impiedosa?
Tua ausência me cerca
como a corda o pescoço.
O mar em que naufraga.

(Jorge Luis Borges)

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